O líder reformista e Nobel da Paz, Mohamed ElBaradei, pediu nesta quarta-feira ao Exército que abandone a neutralidade e aja para proteger os egípcios em meio aos violentos confrontos entre partidários e detratores do regime de Hosni Mubarak na praça Tahrir, no centro do Cairo.
Ainda não há saldos oficiais, mas a agência de notícias France Presse afirma com base em médicos locais que ao menos 500 manifestantes foram feridos. Nas imagens exibidas pela televisão, é possível ouvir sirenes de ambulâncias se aproximando do local.
"O Exército deve tomar uma posição agora, e não continuar neutro", disse ElBaradei em declarações à rede de televisão Al Jazeera.
Ben Curtis/AP
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As Forças Armadas se mantiveram impassíveis durante as horas de confrontos entre manifestantes dos dois lados, que trocaram pedras e paus. Repórteres no local relatam que os manifestantes da oposição jogam coquetéis molotov dos prédios ao redor da praça, enquanto os governistas lançam blocos de pedra.
A Al Jazeera diz que tanques foram utilizados para separar os dois grupos de manifestantes da praça e que jatos de água foram lançados para conter as chamas causadas pelos molotov.
"Peço ao Exército que intervenha para proteger a vida dos egípcios", pediu ELBaradei, para quem "o que vem acontecendo é uma tragédia na história do Egito por parte de um regime que perdeu sua legitimidade".
ElBaradei assegurou que há provas de que os autores dos ataques são policiais. "O que está ocorrendo agora é que grupos de pistoleiros foram atacar manifestantes pacíficos, e foi provado que são oficiais de policial vestidos como civis. Temos suas carteiras da polícia como prova", afirmou.
Manifestantes da oposição já haviam denunciado que parte dos manifestantes pró-Mubarak eram policiais disfarçados. Parte deles entrou na praça Tahrir montada em cavalos e dromedários e com chicotes na mão.
"Isso significa que o regime não respeita os direitos humanos e que não hesita em atacar o povo para permanecer no poder", acrescentou.
ElBaradei afirmou que "85 milhões de egípcios sofrem, são detidos e assassinados por um ditador que quer se manter no poder por todos os meios".
Horas antes dos confrontos em Tahrir, as Forças Armadas reduziram o toque de recolher em três horas e pediram para que os manifestantes encerrem os protestos.
As medidas, além da retomada da internet após cinco dias, parecem um esforço do governo para retomar aos poucos a normalidade no país, horas depois de um pouco convincente discurso de Mubarak na TV estatal prometendo não concorrer novamente. O toque de recolher será imposto agora das 17h às 7h (13h às 3h em Brasília), em vez das 15h às 8h (11h às 4h).
Ele foi imposto na sexta-feira passada (28), dia de violentos confrontos entre manifestantes e as forças de segurança em todo país, mas foi violado sistematicamente por centenas de manifestantes que dormem há dias na praça Tahrir.
Em comunicado lido na TV, o porta-voz das Forças Armadas pediu ainda nesta quarta-feira o fim dos protestos. "É possível que vivamos uma vida normal, é possível para os netos dos faraós e os construtores das pirâmides superar as dificuldades e conquistar segurança", disse.
"Sua mensagem chegou, suas demandas foram conhecidas, vocês são capazes de trazer a vida normal ao Egito", completou.
O Exército tem um papel crucial na crise política no Egito. Diferentemente da polícia e das forças antidistúrbios, os militares recebem confiança dos manifestantes --que veem neles uma força menos violenta e menos submissa a Mubarak.
Os egípcios dizem que os militares não atacariam com violência os manifestantes, já que muitos têm parentes e amigos entre os que protestam pelo fim do regime.
A Irmandade Muçulmana, mais organizado grupo de oposição, afirmou recentemente querer negociar com o Exército, "o único no qual as pessoas confiam", para chegar a um acordo sobre a transferência de poder de forma pacífica.
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