Pesquisar este blog

quarta-feira, 23 de março de 2011

Morre a Musa Elizabeth Taylor


Os tais "olhos de Liz Taylor" não vieram à toa. Se é um tremendo clichê, um desses caminhos fáceis para se definir toda uma vida em poucas palavras, mencionar essa peculiaridade de azul-violeta acaba encontrando o que melhor situa a atriz na história do cinema: o mito.

A beleza fora do normal de Elizabeth Taylor, que na tela resultava numa imagem ideal, cumpria umas das características desse cinema clássico de astros e estrelas.
Ao mesmo tempo, bem diferente das musas típicas como Greta Garbo ou Bette Davis, o corpo de Taylor era sempre uma questão nos filmes, fazendo uma perturbadora dialética com o rosto, ou seja, entre a imagem sacra e "iluminada" da face e o corpo em sua materialidade mundana, que tinha muito mais a ver com o cinema físico mais moderno que começava a surgir na Hollywood dos anos 50. Um mito levado à situação de risco. Um risco que consolidou seu mito, sua imagem eterna.

É com esse corpo, que parecia sugerir menos as formas, como o de Marilyn Monroe, e mais a própria dimensão carnal, da pele, algumas gordurinhas e seios querendo se fazer mostrar, que Elizabeth Taylor fez sua notável carreira.
Em síntese, o percurso da atriz vai da pureza de quando era uma garotinha, nos filmes de Lassie, nos anos 40, aos que fizera nos anos 60, ao lado de Richard Burton.

Elizabeth Taylor no papel de Cleópatra em versão para o cinema em 1963

Ao longo da carreira, Liz Taylor conseguiu uma quase impossibilidade de atender a cinemas distinto. A imagem de culto típica do cinema clássico está impecável, por exemplo, em "Um Lugar ao Sol" (1951), de George Stevens, divinamente fotografada em preto-e-branco. Também em outro de Stevens, "Assim Caminha a Humanidade" (1956), no papel da mulher de um fazendeiro (Rock Hudson) e objeto de amor de James Dean. São trabalhos que alimentaram essa idéia de Liz Taylor como grande estrela de Hollywood.

Mas uma sexualidade "grosseira" à sacralidade do cinema tipo anos 1930, anuncia-se em "Gata em Teto de Zinco Quente" (1958), de Richard L. Brooks, inclusive pelo reconhecível timbre de voz da atriz, que remetia a instintos bastante sexuais, proibidos.
É, aliás, com essa voz que faz lembrar a presença de língua e saliva na boca que ela contracenaria com Marlon Brando no perturbador "O Pecado de Todos Nós" (1967). Tempos de outra Liz Taylor, afamada pelo escândalos extraconjugais, bebedeiras e amores loucos. Nesse clima, ela fez "Quem Tem Medo de Virginia Woolf?", de Mike Nichols, sobre a crise pequeno-burguesa, e pelo qual ganhou seu segundo Oscar.

Mas é "Cleópatra" (1963), de Joseph L. Mankiewicz, quem dá conta de Liz Taylor. Obra-prima injustiçada, inclusive pela própria Liz Taylor, foi aqui que ela conheceu Burton (traindo abertamente o então marido, Eddie Fisher, que ela roubara de Debbie Reynolds anos antes).
Foi aqui, também, o cenário das recorrentes doenças que Taylor tivera por toda a vida, dos atrasos, dos percalços de produção, do maior salário que uma atriz recebera até então (US$ 1 milhão). Uma típica superprodução, mas portadora de um conteúdo diferenciado, quase "avant garde" para os padrões.

Taylor faz esse duplo papel de musa e mundana do cinema, num falso épico cuja estrela carrega uma carga erótica um tanto perigosa para o cinema comercial, sobretudo numa produção quer custou cerca de US$ 44 milhões.
Mais que os olhos violetas, é uma obra arriscada como "Cléopatra" quem melhor condensa o longo percurso de uma artista que encontrou sua expressão pondo sempre em risco sua imagem de musa, de estrela eterna, mas sem jamais romper com suas origens.
Não foi uma atriz moderna, uma Jeanne Moreau, mas criou mais transtornos. Por isso o único lugar a colocá-la talvez seja o dos olhos azuis-violeta. Até Richard Burton, que a conhecia bem, recorreu a essa idéia para conseguir explicar por que se apaixonou por ela, nos anos 60.

Nenhum comentário:

Postar um comentário